A Vanessa e o Bernardo ficaram me instigando hoje a escrever sobre uma discussão que tivemos em aula. Alguém sustentou a hipótese de que a língua inglesa é pobre e que daqui a 50 anos ninguém lembrará de um só trabalho em inglês, ao passo que o latim seria eterno. Appia Cláudia sustentou uma tese um pouco mais defensável, segundo a qual o inglês é apenas estruturalmente pobre.
Qualquer bossal que estude informática em uma universidade decente está familiarizado com a hierarquia de Chomsky e as famosas expressões regulares, gramáticas livres de contexto, gramáticas sensíveis ao contexto etc.
Quem estuda letras no entanto, não estuda matemática e perde a grande oportunidade de perceber que essa hierarquia tem fundamento e função: demonstra-se que todas as palavra s geradas pelo conjunto-potência dos símbolos do alfabeto mais as regras gramaticais, em cada nível, ficam dentro da mesma classe de equivalência.
Isso é muito importante para o profissional de informática porque assim nós definimos o tipo de automatização necessário para reconhecer cada palavra formada em um determinado nível. Por exemplo: as calculadoras precisam reconhecer palavras (linguisticamente, uma conta é um tipo de palavra gerada por uma expressão regular mais um conjunto finito de símbolos) !
Tecnicamente, para reconhecer palavras do nível mais simples (expressões regulares) usamos uma abstração chamada autômato de estados finitos; Para reconhecer uma palavra formada no segundo nível, gramáticas livres de contexto, empregamos um autômato de pilha. As linguagens de programação costumam ficar no nível seguinte, o das gramáticas sensíveis ao contexto, e também há um tipo de automação específica para reconhecer os possíveis padrões daí resultantes, e é assim que a gente pode programar um computador para ser programável. (perceberam o que eu disse?)
O nível mais complexo é o das gramáticas livres (unrestricted), e em tese, para validar uma palavra dentro dessa classe precisamos de uma máquina de turing.
Eu só aceito que se diga uma linguagem é mais pobre que outra se elas ficam em diferentes classes hierarquicas. Isso é técnico, científico e matemático. O resto é ideologia. O universo das possíveis comunicações não é dado pelo número de tempos verbais ou desinências genero-pessoais. Sequer pelo número de diferentes palavras. O que faz uma pessoa achar que o índio que chama "pá" de "colher pra cavar" tem uma língua mais pobre, é o preconceito do conquistador. O que faz o brasileiro achar que "procurar" é superior a "to search" é o seu nacionalismo. Do ponto de vista matemático, todas as linguagens naturais são equivalentes.
how about that?
Será que as enquetes se empilham igual aos posts?
Você acha que eu devia voltar a escrever?
Friday, June 09, 2006
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1 comment:
Bernardo, é sempre bom contar com sua companhia na batalha por corações e mentes. Envie uma carta para o Bin Laden dizendo a personagem em questão é a autora da música "Olha a cabeleira do zezé! (...) Será que ele é Maomé?".
Daí é só esperar.
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