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Wednesday, April 12, 2006

falando sério...

Hoje eu mandei um email para a divina Claudia Laterana em que eu falava de um livro que comprara, e tocava a descer o pau no autor nos parágrafos seguintes. Um detalhe: se eu achasse o livro ruim eu não o compraria. Mas o meu lado rabugento tem aflorado um bocado ultimamente.

Assim sendo, vou introduzir uma discussão nesse blog que ninguém comenta:

Eu acho que o jargão acadêmico é necessário para se obter a devida precisão semântica nos trabalhos e artigos, mas se torna um estorvo quando demasiadamente utilizado.

Analisemos dois exemplos distintos. O primeiro é o livro Chimpanzee Politics, do etologista Franz de Waal.

Não é possível falar de primatologia de modo preciso sem usar o jargão da área. 'Macho alfa', 'dominância formal', 'cio' integram um conjunto de termos que o pessoal desta área precisa usar, sob pena de do contrário expressar-se mal.

Por isso mesmo, o livro dispõe de uma introdução onde estes conceitos são definidos e apresentados para o público geral e eventuais estudantes de etologia. O livro, embora escrito com precisão, também não peca por preciosismos excessivos: De Waal poderia perfeitamente escrever Pan Troglodytes e Pan Paniscus, mas pouquíssima gente saberia que ele estaria se referindo a Chimpanzés e Bonobos, reespectivamente.

Não é a toa que esse livro ganhou amplo espaço na imprensa na década de 80, gerando inclusive um documentário para cinema. Seu texto, além de interessante, é amplamente acessivel. Eu não sou biólogo e fico muito feliz de poder ler e entender perfeitamente um trabalho fascinante e pivotal na área da primatologia. Uma curiosidade. Apesar do livro do De Wall não tocar no assunto, vários cientistas hoje já querem a alteração da classificação taxonômica do chimpanzé e do bonobo, para HOMO Troglodytes e HOMO Paniscus!

Exemplo contrário é o livro 'O guerreiro, o soldado e o legionário. Os exércitos do mundo clássico' de Giovanni Brizzi. Apesar de o livro ser bom, o vocabulário o torna inacessível aos não iniciados. Se eu afirmar por exemplo, que o ethos do hoplita lacedemônio difere daquele do miles romanus porque um abraça o stratégema e o outro prefere a bellum iustum, muito pouca gente vai endender que diabos eu disse. E o Brizzi escreve exatamente neste estilo. Onde ele poderia escrever 'Grécia' ele escreve 'Hélade'. Onde ele poderia escrever 'espartano' ele grafa 'lacedemônio', o que é uma pena, porque o livro fica restrito a pequenos círculos, e exclui da possibilidade de compreensão até mesmo pessoas da área de humanas como sociólogos ou historiadores que não sejam versados em cultura clássica.

Eu acho que falar lacedemônio ao invés de espartano é, sinceramente, coisa de VIADO. Daqueles grafados com 'i' porque como diria o Jabor, "quem escreve veado é viado". Mas se a precisão semántica do texto exige que se fale de fides, de vicus, de miles e gens, por que não fazer uma introdução para familiarizar o leitor com esses conceitos?


Note-se que o livro do Brizzi não é um artigo publicado em uma revista de história, é um livro à venda em qualquer shopping center. Mas quem vai entender esse tipo de texto?

Eu acho que assim se perde a "batalha por corações e mentes" para qualquer Paulo Coelho da vida. Os espertalhões, por definição, escrevem para ser lidos. Se a academia escreve para não ser lida, como esperar que o público absorva alguma coisa de real valor?

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